Por: Eduardo Assad Sahão
Em comparação a países desenvolvidos, nossa arte está drasticamente defasada. É com tristeza que escrevo tal afirmação. Quando digo defasada, não me refiro a quantidade e (muito menos) qualidade de nossa manifestação artística. O Brasil sem dúvida é um dos países mais ricos em diversidade de gêneros musicais. A extensão territorial faz jus às várias correntes estéticas que fervem nosso brasil culturalmente. Pare para pensar: frevo, baião, xaxado, congado, maracatu, forró, choro, samba, bossa nova. Além disso, também temos gêneros vindos de fora que integram àqueles e permeiam os espaços culturais daqui: jazz, música erudita, rock, blues, rap e diversos outros. Cada canto tem um canto diferente. A pergunta aqui é: de onde sai a sobrevivência para tanto canto?
A música, em geral, precisa de investimento. Concertos, recitais, shows, óperas. Tudo isso demanda tempo, espaço, conhecimento e dinheiro. Ir a um evento desses, muito mais do que entretenimento pessoal, é oportunidade de conhecimento cultural e pessoal. Considero que, quanto mais polivalentes somos culturalmente, mais entendemos o fazer social como um todo. Entender o próximo é entender a cultura dele e a sua própria. Se dentro do Brasil não temos o investimento devido em cultura e a maioria do fomento em projetos sociais não arca com a demanda do país, cai nas nossas costas a responsabilidade de não deixar o teatro fechar.
Resgatando um pouco da história da música, financiadores sempre foram os responsáveis por manterem a cultura acesa. Por exemplo, no classicismo, Franz Joseph Haydn, um profícuo compositor, tinha todas as condições que precisava para compor. Uma orquestra só para si, dentro dos arredores da família Esterhazy, uma das mais ricas do Império Austríaco. Sua fama deu-se durante a vida, graças às robustas condições que lhe eram dadas. Já W. A. Mozart foi o primeiro a tentar se desvincular do clero e, consequentemente, morreu na miséria. Sua genial capacidade composicional não foi capaz, na época, de suprir sua própria subsistência contra a Aristocracia mantenedora de receitas. Por mais que suas óperas tinham teatros lotados.
O que quero dizer com esse brevíssimo panorama histórico é que ingressos esgotados não pagam contas. O financiamento de políticas públicas e da iniciativa privada é imprescindível para que a cultura seja difundida e ampliada como deve. Cultura custa caro, mas não é gasto. É investimento. Investimento em educação, em conhecimento, em pertencimento social e amadurecimento pessoal, dentre várias outras esferas da vida que são contempladas. Toda empresa e/ou instância pública que vê a cultura dessa forma, já cumpre seu papel social para o desenvolvimento de uma nação.
A solução está, justamente, na união destes universos. Público e privado trabalhando para que haja a difusão da cultura no maior número de espaços possível. De nada adianta lamentar pela falta de incentivo se você tampouco atende à programação cultural do seu bairro ou cidade, muitas vezes feita com dinheiro tirado do próprio bolso do empreendedor cultural, com tanto afinco e carinho.
Devemos nos espelhar nos modelos que inserem esse tipo de investimento no orçamento mensal das instituições, promovendo parcerias de eventos, concertos, shows, recitais, para que, além de atingir o público com o produto principal, formemos cidadãos conscientes com a arma mais poderosa que dispomos: a cultura. Acredite, um país custa muito mais caro sem ela.