Por: Eduardo Assad Sahão
Diante de um tema tão complexo, hoje escrevo o primeiro texto destinado ao Blog do site Piano em Foco, projeto idealizado pela exímia pianista e arranjadora, Antonella Franco.
Neste espaço, publicarei textos que englobam o tema “música”. Amplo, não? Pois é, intencionalmente. Matérias, entrevistas, críticas, resenhas sobre concertos, recitais e apresentações diversas, tudo que o mundo da música nos proporciona. Será um espaço destinado a reflexões e conversas não apenas sobre piano e música erudita, mas sobre o fazer musical como um todo. Tudo isso de uma maneira leve, porém munida de informações concretas para uma visão crítica acerca deste universo musical tão vasto que nos permeia.
Aproveito este primeiro texto para expor uma reflexão pertinente a respeito da educação musical brasileira atualmente. Parte-se da premissa que, devido à instantaneidade das informações propagadas pelos meios de comunicação mídias sociais, nossa capacidade de concentração diminuiu drasticamente. Pense no tempo que gastamos por dia na tela do celular, totalmente dispersos. Ou seja, nossa relação com tudo o que exige concentração e paciência mudou. O aprendizado e aperfeiçoamento de um instrumento, por exemplo, é algo que requer horas diárias de estudo, afinco durante anos, para desenvolver não apenas a habilidade técnica necessária, mas polir a musicalidade e adequar os ouvidos a diferentes correntes estéticas, estilos musicais e etc. E essa mudança impactou, inclusive, o ensino de piano.
A tentativa muitas vezes simplória de acelerar um processo “inacelerável”, como ensinar música, tornou-se uma prática recorrente nas escolas especializadas. Reduzir a aprendizagem de um instrumento a tocar apenas o que o estudante deseja não faz parte de uma educação musical efetiva. Claro que, o mais importante é partir da própria vivência do aluno e suas intenções, mas cabe ao músico e professor de música conduzir o aluno de maneira perspicaz ao que existe de encantador no nosso mundo. Não estou aqui reivindicando o uso dos materiais tradicionais de conservatório, até porque acredito que a maioria esteja ultrapassada e tenham de ser aperfeiçoados de maneira que não se tornem um cargo para o estudante de música. Mas, existe aí uma linha tênue entre apenas “tocar o que gosta” e “tocar o que é preciso”. Extremos estes que já abortaram o nascimento de artistas possivelmente brilhantes, justamente por criarem uma atmosfera não condizente com o que a música representa.
E qual é a solução? Nenhuma, por hora. Acredito que o primeiro passo é o diagnóstico da situação. O método tradicional de ensino já não é mais intrigante o suficiente para prender a atenção do jovem atualmente. Devemos estar atentos ao modo que ensinamos, fazemos e ouvimos música, para descobrirmos tecnologias que auxiliem na compreensão musical, e o que a revolução tecnológica pode nos trazer de benéfico. Tudo isso, é claro, sem esquecer o Czerny nosso de cada dia.